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O Futuro do Turismo É Inteligente

Como a IA Está Redefinindo Experiências, Operações e Lucros

Rodrigo Horta
O Futuro do Turismo É Inteligente

Imagine reservar um restaurante, pedir o vinho ideal e planejar uma viagem completa, tudo por um único aplicativo que entende o seu gosto melhor do que você mesmo. A inteligência artificial (IA) deixou de ser promessa e já remodela o turismo, a gastronomia e a hospitalidade, unindo eficiência, conveniência e personalização em uma indústria que movimenta trilhões de dólares.

O consumidor mudou. Hoje, 84% dos viajantes começam a jornada no digital. Mas não querem perder horas navegando por sites fragmentados: preferem soluções integradas, recomendações instantâneas e interações sem atrito. Um levantamento do World Travel & Tourism Council (WTTC) projeta que o setor de viagens e turismo, que movimentou cerca de US$ 8,9 trilhões em 2023, atinja US$ 13 trilhões até 2030. Paralelamente, o mercado de IA aplicada à hospitalidade avança com um CAGR de 28% até 2030 (MarketsandMarkets).

TripAdvisor para avaliações. Google para buscas. Booking para hotéis. TheFork para reservas. Eventbrite para eventos. Cada etapa isolada multiplica fricções. O futuro? Superapps que reúnem tudo: inspiração, reserva, pagamento, recomendação e até pós-venda, em um ecossistema que "aprende" com cada clique. Exemplos emergem na Ásia com o WeChat, que integra desde passagens aéreas até pedidos de comida. No Ocidente, gigantes como Google e Tripadvisor começam a testar concierges alimentados por IA generativa.

Grandes redes já surfam essa onda. O Hilton Honors, por exemplo, oferece chave digital: o hóspede faz check-in pelo celular, escolhe o quarto, abre a porta sem passar pela recepção, tudo automatizado. O Marriott investe em chatbots de IA para reservas e atendimento multilíngue. Redes como McDonald's e Starbucks, ainda que fora do turismo tradicional, são referência: seu mobile ordering aumentou o ticket médio em até 20% e reduziu filas, algo que restaurantes independentes podem aprender e aplicar.

RESTAURANTES INTELIGENTES: O CLIENTE NO CONTROLE, O GARÇOM VIRTUAL AO LADO

Nos restaurantes, a transformação digital vai além do simples QR code. A tendência é o autoatendimento assistido: o cliente faz o pedido direto pelo celular, personaliza pratos, escolhe acompanhamentos e até chama um sommelier virtual para sugerir harmonizações, tudo sem esperar o garçom vir à mesa.

Essa autonomia não elimina o atendimento humano, mas otimiza o serviço: o assistente virtual funciona como um garçom poliglota, capaz de responder dúvidas em tempo real, explicar ingredientes e traduzir o cardápio para turistas de qualquer nacionalidade. Para o cliente, é conveniência e controle; para o restaurante, significa filas mais curtas, giro de mesas mais rápido e equipes mais leves.

Em países como Japão, Coreia do Sul e cada vez mais na Europa, esse modelo já é realidade em redes de fast-casual, bares e hotéis boutique que buscam eficiência sem perder o toque de hospitalidade.

DESAFIOS: ENTRE O ROBÔ E O TOQUE HUMANO

Nem tudo é simples. O avanço da IA na hospitalidade levanta questões reais sobre privacidade de dados, mas também sobre o papel do ser humano nesse novo cenário. É fato: a IA substitui tarefas repetitivas, corrige gargalos e até cobre falhas humanas. Sim, em muitos casos, ela pode substituir o empregado que não agrega valor real.

Mas a tecnologia, por si só, não substitui o ser humano, substitui o humano que não domina a tecnologia. Quem aprende a usar IA, ajusta processos e cria valor, naturalmente ocupa o espaço de quem resiste a evoluir. Empregos podem desaparecer, mas funções novas surgem: especialistas em automação, curadores de conteúdo, designers de experiências digitais, analistas de dados de comportamento. A produtividade salta, custos caem e surgem novos negócios e cargos que hoje nem existem, para orquestrar um setor mais eficiente e criativo.

No fim das contas, o maior risco não é a IA tomar empregos, é as pessoas não se prepararem para trabalhar com a IA, lado a lado.

DADOS: O NOVO OURO DA HOSPITALIDADE

A força real da IA não está só na automação, mas no poder dos dados. Cada reserva, avaliação, curtida ou pedido alimenta algoritmos que refinam recomendações, preços dinâmicos e ofertas personalizadas. Para o hóspede, isso significa experiências sob medida. Para o restaurante ou hotel, oportunidades de up-selling, redução de custos e marketing preditivo.

A boa notícia? Essa revolução não é privilégio de grandes redes. Restaurantes de bairro, pousadas independentes e operadores de turismo local podem adotar soluções acessíveis, como cardápios QR code com recomendações dinâmicas, concierges virtuais plug-and-play e programas de fidelidade automatizados. Além de reduzir custos fixos, uma dor especialmente forte em países com carência de mão de obra na restauração, essas inovações elevam o padrão de atendimento sem exigir grandes investimentos.

UMA NOVA ERA PARA O TURISMO

No pós-pandemia, flexibilidade, conveniência e personalização não são mais diferenciais, são exigências básicas. O turista quer decidir rápido, viver a experiência e compartilhá-la. Para atender essa geração, quem domina dados e IA lidera. E, em um mercado onde margens apertadas são regra, automatizar etapas significa mais fôlego financeiro e escalabilidade.

No fim das contas, a tecnologia serve a um único propósito: libertar tempo para aquilo que só humanos podem fazer: criar conexões genuínas. O futuro do turismo e da hospitalidade será cada vez mais inteligente, mas continuará, essencialmente, humano.

Rodrigo Horta é empreendedor, fundador da SmartToday, uma startup portuguesa dedicada à inovação para turismo e restauração, com mais de 20 anos de experiência em tecnologia e vendas globais.